Um empreendedor americano na América Latina.
ORELHA DO LIVRO
O original de Farquhar, o último titã foi publicado em 1964, no
centenário de nascimento de Percival Farquhar (1864-1953).
Sua tradução para o português fica pronta para as comemorações de dois
marcantes centenários envolvendo Farquhar: o do Porto de Belém, no Pará, e o da
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em Rondônia.
Iniciar empreendimentos desses portes em 1907 em ambiente inóspito e
disputando técnicos e mão-de-obra com o monumental Canal do Panamá era típico
desse empreendedor visionário e sem medo.
Após passar por Cuba e Guatemala, onde afiou suas armas — que eram
persistência e persuasão —, o rastro da presença de Farquhar no Brasil é
extraordinário, indo literalmente do Oiapoque ao Chuí. E além, pois seu sistema
ferroviário, em torno do qual gravitaram iniciativas como colonização,
pecuária, madeireiras, portos, hidrelétricas, siderurgia e outros — todos
destinados a criar tráfego e viabilizar as ferrovias —, deveria ter-se tornado
transcontinental, chegando ao Pacífico.
Não chegou. Aliás, quase nada deu certo para Farquhar, que realizou
coisas consideradas impossíveis, mas pouco proveito tirou delas. Ele faliu no
início da Primeira Guerra Mundial e viu seu projeto de mineração virar empresa
estatal na Era Vargas, Cia Vale do Rio Doce.
Estava com 80 anos e pouquíssimo dinheiro em 1944, mas, mesmo
assim, começou de novo na siderurgia, fundando a Acesita com sócios
brasileiros.
Em 1952, quando deixou o Brasil pela última vez, o Banco do Brasil tomava
a Acesita endividada de seus donos.
No entanto, o futuro mostrou que suas visões, além de terem o porte do
Brasil, eram também acertadas em muitos pontos.
Para saber como um homem pode fracassar em quase tudo e continuar um
vencedor, é preciso ler este Farquhar, o último titã. É preciso lê-lo também
para conhecer melhor o Brasil e apreender o emaranhado de amor e ódio que
prevalece nas relações entre o nosso país e os Estados Unidos — cuja política
não favoreceu os interesses de Farquhar.
Gauld, que terminou seu texto em 1963, reflete os medos americanos
durante a Guerra Fria, sobretudo depois da perda de Cuba para os soviéticos.
Apaixonado por seu personagem, reflete total antipatia pelos brasileiros
que se opuseram a Farquhar, assim como incondicional simpatia pelos que o
apoiaram. Do alto de sua superioridade anglo saxônica, seu julgamento do Brasil
está longe de ser simpático. Farquhar, que tratava o país como sua terra de
adoção, não concordaria com esta forma antipática que Charles Gaud viu e sentiu
o Brasil.
Mirian Paglia Costa
Editora da Cultura.
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CONTRA CAPA
Percival Farquhar foi o maior empresário de serviços públicos da
história nacional.
Em negócios de hoje, ele seria o controlador ou grande acionista da
Light, da Eletropaulo, Embratel, Telefônica e Telemar. Isso e mais a Vale do
Rio Doce, a Acesita, os metrôs do Rio e de São Paulo, dez ferrovias e um porto.
Suas PPPs contribuíram para a explosão da revolta sertaneja do
Contestado (três mil mortos) e para a mortandade da Madeira-Mamoré. (...)
Vivia como um príncipe, seco, distante e abstêmio. Os personagens da
privataria de hoje caberiam no bolso do colete de sua casaca.
Estudá-lo ajuda a expor tanto os embustes nacionalistas corno a
macaquice das ekipekonômicas diante dos magnatas mundiais. (...)
Elio Gaspari - 2006
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TRAÇOS BIOGRÁFICOS
Entre 1905 e 1918, o americano Percival Farquhar
foi o maior investidor privado do Brasil, alcançando estatura semelhante à do Barão
de Mauá, que reinou absoluto no século 19. No auge de seu poder, o empreendedor
da Pensilvânia canalizou para o país uma enxurrada de recursos vindos da Europa
e dos Estados Unidos, aplicando-os nas mais diferentes áreas de negócios --
transporte, energia, comunicações, fazendas e frigoríficos, entre outros.
Em sua maioria, eram grandes projetos, sendo que
alguns beiravam a pura megalomania, como a famosa Estrada de Ferro Madeira Mamoré,
construída em plena selva amazônica. Excentricidade que acabou sendo associada
para sempre à figura de Farquhar, a ferrovia foi um desastre completo. Mais de
1 500 trabalhadores morreram na construção e a operação resultou num grande
fiasco financeiro. A trágica saga serviu de inspiração para a minissérie Mad
Maria, exibida pela Rede Globo. Nela, o empresário foi retratado como um
vigarista disposto a tudo para ganhar dinheiro, o que não corresponde a
realidade de vida de Percival Farquhar que deve ser tratado com mais respeito
pelas obras que realizou e pelas contribuições extremamente significativas ao
desenvolvimento do Brasil.
Percival Farquhar se não foi o americano que mais
amou o Brasil, certamente foi um dos estrangeiros que mais acreditou e que mais
dedicou seus esforços ao nosso pais.
Na realidade, ele era uma figura muito mais
complexa e fascinante, conforme mostra a biografia Farquhar, o Último Titã, de
Charles Anderson Gauld.
Editado nos Estados Unidos em 1964, somente agora o
livro foi traduzido e lançado no Brasil. O Farquhar que emerge das páginas de O
Último Titã é um homem em que tudo aparece superdimensionado: o tamanho de seus
projetos; o alcance de seus sonhos; sua capacidade de persuasão e de auto
ilusão; seu otimismo sem lastro; sua insistência em recorrer ao instinto e
decidir sem procurar informações; sua ambição sem limites; sua imensa
vitalidade; sua habilidade para levantar recursos; seus estrondosos fracassos
-- e sua disposição, depois de cada revés, para lançar-se em novas aventuras.
Nascido numa abastada família Quacker da
Pensilvânia em 1864, Farquhar estudou engenharia na Universidade de Yale e
direito em Nova York. Foi trabalhando no departamento de exportação da fábrica
de implementos agrícolas do pai que ele entrou em contato com a América Latina.
Participou da eletrificação dos bondes de Havana e da construção de ferrovias
em Cuba e na Guatemala. Em 1905, desembarcou no Rio de Janeiro, iniciando sua
incrível aventura brasileira. Farquhar tentou, à sua maneira, desenvolver o
país com o dinheiro de investidores americanos e europeus. Nesse aspecto, foi
um pioneiro na globalização dos trópicos.
No começo do século 20, quando havia capital em
abundância, Farquhar dizia-se capaz de "financiar qualquer coisa".
Essa frase estava longe de representar uma bravata.
O empresário começou sua carreira no Brasil
ajudando dois investidores estrangeiros a organizar a Tramway Light & Power
Company, no Rio de Janeiro. Em seguida, fracassou na implantação de uma empresa
semelhante na Bahia. Teve de vendê-la à prefeitura de Salvador, que deixou de
pagar parte da dívida. Farquhar não se abateu com o revés e continuou apostando
pesado. Sob o guarda-chuva das companhias Brazil Railway e Port of Pará,
lançou-se à construção do porto de Belém, à implantação de uma companhia de
navegação na Amazônia e à fatídica Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
No sul do Brasil, Farquhar comprou e expandiu
diversas ferrovias, que chegaram a Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai. Para
movimentar e tornar rentáveis as estradas de ferro, Farquhar quis desenvolver
economicamente as áreas adjacentes. Incentivou a entrada de imigrantes para a
agricultura, incorporou terras, montou a maior serraria, o maior frigorífico e
o primeiro armazém refrigerado para exportação de carne do Brasil.
Segundo seu biógrafo, Farquhar teve mais fome de terras
do que qualquer personagem da história da América Latina desde o tempo dos
incas. Uma de suas empresas, a Brazil Land, Cattle & Packing, tinha 200 000
cabeças de gado e a maior fazenda do mundo.
Com a intensificação do conflito dos Bálcãs, em
1913, e o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, a fonte de recursos
externos secou e o precário império de Farquhar desmoronou. As empresas
entraram em concordata. Seus financiadores perderam o dinheiro. Ele mesmo tinha
especulado na bolsa, com papéis sem lastro, para assumir o controle das
empresas. Acabou arruinado. Na época, dizia-se no Rio de Janeiro que os
investidores estrangeiros na Amazônia eram como foliões do Carnaval na
Quarta-Feira de Cinzas: falidos, com uma enorme dor de cabeça e sem aspirina. O
dito popular parecia feito sob encomenda para o empreendedor americano.
Farquhar voltou à carga em 1919, iniciando um
ambicioso projeto para extrair minério de ferro da região de Itabira, em Minas
Gerais, instalar uma siderúrgica integrada, construir uma ferrovia até o mar e
um porto em Santa Clara, no Espírito Santo. O presidente Epitácio Pessoa
concordou com o negócio, fornecendo-lhe as diversas concessões.
Farquhar chegou a adquirir a Estrada de Ferro
Vitória Minas, mas a execução do projeto sofreu tantas demoras que avançou
pelo período de Getúlio Vargas. Em 1939, o ditador cancelou todo o negócio.
Três anos depois, com seus ativos, foi criada a Companhia Vale do Rio Doce.
Farquhar ainda tentou instalar uma nova siderúrgica
em Minas Gerais, a Acesita. Como não conseguiu investidores externos, teve de
recorrer a capitais nacionais, principalmente do Banco do Brasil, que como
maior acionista acabou assumindo o controle da empresa em 1952. Farquhar tinha
82 anos. Morreu no ano seguinte sem ter conseguido receber do Estado brasileiro
o dinheiro de que se achava credor.
As informações sobre Farqhuar na historiografia
brasileira são totalmente desencontradas. No livro Chatô - O Rei do Brasil, do
jornalista Fernando Morais, o americano é apresentado como dono da Rio Light,
da Companhia Telefônica Brasileira e de um grande número de ferrovias no
Brasil, de estradas de ferro na Rússia e minas de carvão na Europa Central,
além de engenhos de açúcar em Cuba. Edgard Carone, em A República Velha, diz
que as empresas de Farquhar viviam de favores governamentais. Embora exagere na
admiração ao personagem, tratando-o sempre como um capitalista iluminado e
cheio de boas intenções, Charles Gauld apoiou-se numa extraordinária riqueza de
documentos e fontes de informações, o que confere um valor histórico à sua
obra, ainda não igualado por nenhum outro trabalho.
Percival Farquhar (terceiro à esquerda) em uma mesa com Presidente Afonso Pena |
Percival Farquhar em Itabira - 1935 |
Percival Farquhar assinando um contrato pela Acesita em 1947. |
Alguém tem o livro (PERCIVAL FARQUHAR - O ULTIMO TITA UM EMPREENDEDOR AMERICANO NA AMERICA LATINAAutor: GAULD, CHARLES)ou sabe onde posso comprar
ResponderExcluirufvalladares@ig.com.br
Ubirajara. Eu tenho este livro que está emprestado. Comprei na internet no site Estante Virtual. Este é um livro esgotado. De vez em quando aparece um usado à venda. Tem de dar sorte. A algumas semanas um amigo conseguiu comprar também um usado.
ExcluirBoa tarde, Sr. Fábio!
ResponderExcluirQue frustração não encontrar o livro: Farquhar, o último titã. Assisti um documentário no canal History Channel - Gigantes do Brasil - dividido em quatro capítulos. Em deles relata a saga desse empreendedor. Esse documentário despertou-me o interesse pelo livro. Já liguei na editora e, também, fiz uma busca no site Estante Virtual e nada....
Agradeço pelas informações que compartilhou desse empreendedor.
Boa tarde!
Alexandre.
Este livro está digitalizada neste site:
ResponderExcluirhttp://www.cra-rj.adm.br/publicacoes/acervo_digital/charles-a-gauld/farquhar/#332
Descobri através do documentário que O Brasil Roubou a Vale deste Americano, isso não é coisa que se faça a um empreendedor
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